Na mais recente WYtalk, Paulo Rossas, CIO da Lisbon Digital School, trouxe a debate um tema focado na proliferação e (ardilosa) utilização da palavra “estratégia” no mundo do Marketing Digital, e em como isso simplesmente não faz sentido.
Contou-nos o Paulo que, em 1973, Adriano Celentano, artista e cantor italiano, influenciado pelo rock and roll e por tudo o que era Americano, decidiu “escrever” uma música que parecia inglês, mas ninguém sabia bem o que ele dizia. A melodia de fundo era boa, no entanto não queria dizer nada: eram apenas palavras aleatórias inventadas por ele, que soavam a algo que parecia inglês. A música chama-se “Prisencolinensinainciusol”. Obviamente, alcançou o número 1 da tabela de sucessos musicais no país, catapultando Adriano Celentano para a ribalta, e virando estrela nacional. O hit ficou tão famoso, que sempre que as pessoas o esquecem, ele volta, sem ninguém perceber porquê, e torna-se viral. Até teve direito a nova versão, criada em 2017 pelos Chicago’s Tub Ring e a lugar de destaque num episódio da série Fargo da Netflix, recentemente.
E porquê esta história? Segundo o Paulo, o Marketing Digital está a tornar-se num “Prisencolinensinainciusol” onde toda a gente dança a uma melodia interessante, funk, pop, rock and roll, o que seja. A melodia é boa, no entanto, a grande maioria é um Adriano Celentano, inventam-se palavras, expressões, estruturas e momentos. Ninguém sabe muito bem o que quer dizer, mas toda a gente canta, dança, acha graça e até se torna num grande sucesso. Em toda a letra da música “Prisencolinensinainciusol”, só existe uma única palavra verdadeira: “alright”.
Quando olhamos para a música atual do Marketing Digital, há uma palavra que se repete no discurso de todas as pessoas, que é a palavra “Estratégia”. O problema é que ninguém sabe muito bem onde a aplicar, um pouco como o “alright”. Vale basicamente para tudo, tudo é “alright”. A “Estratégia” passou a ser tudo. Tudo é estratégia. Mas será que está bem? Não. “Not alright.” O “rock and roll” do Marketing Digital é fantástico, tem um potencial grandioso, não podemos é agarrar-nos a um “Prisencolinensinainciusol” e fingir que sabemos o que estamos a dizer. Uma Estratégia para ser Estratégia tem de ter Objetivos e muito mais.
«Mas afinal o que é Estratégia? Na sua essência, Estratégia é Caos. Se no meio do Caos, percebermos os padrões e os conseguirmos comprovar, vamos vencer. Estratégia é então reconhecer padrões. Todos podemos ser estrategas, desde que consigamos reconhecer padrões. Se percebermos o que vai ou pode acontecer, vamos vencer. Onde é que aparece o real valor, aquilo que nos torna diferentes de todos os outros? Quando temos a coragem de criar os nossos próprios padrões e conseguir comprová-los sem que mais ninguém o consiga fazer, e tudo isto, com recurso a dados, evidências, insights humanos, inovação e desconforto. Depois? É seguir as regras de Estratégia e comprovar com tudo o que foi falado», explicou o CIO da Lisbon Digital School.
Quais são os objetivos e o que se quer extrair de valioso com a estratégia? É necessário, de acordo com o Paulo, entender qual é o contexto daquilo que está a ser feito, o que o mundo está a fazer, quais as tendências atuais – serão as gerações sustentáveis, a inflação? E claro, para quem se está a falar, e onde é que o target está – é importante procurar saber mais sobre o target, os seus interesses, idade, sexo, onde os podemos encontrar – se no google, no email, nas redes sociais… e quais as redes sociais! Depois, tem de se entender o que pode ser feito por este target: «porque é que precisam de mim? O que resolvo? Qual o estímulo e o caminho para resolver esse problema?»
Uma vez identificado o caminho a tomar, há a escolha onde se deve focar o conteúdo, conforme o que se pretende. «Se queremos ser mais aspiracionais, devemos optar pelo Instagram, se o foco é em entretenimento ou educação, por exemplo, podemos utilizar o Tiktok, etc», refere.
Último passo, e um dos mais relevantes de todos, é a escolha e análise de KPIs. «O que vamos avaliar, medir, para ser considerado um sucesso? Se o objetivo é ter mais pessoas no Website, a métrica é tráfego. Mas dentro de todas as opções, temos de escolher a mais adequada: será todo o tráfego, ou só o de qualidade? O foco está no orgânico ou no pago? E se vamos querer medir, por exemplo, entradas/visitantes no site, a bounce Rate, o tempo em site… começar sempre com a pergunta: o que é para nós um número positivo no final? Depois de tudo isto, de sabermos o que realmente queremos medir, alcançar, comprovar, é sim possível que exista uma Estratégia. “Alright?”», finaliza.
Artigo originalmente publicado na LÍDER Magazine.