Amado por uns, olhado por desconfiança por muitos outros, o Networking ocupa hoje um papel de destaque na vida de profissionais e organizações. Passou rapidamente de um desconhecimento quase total para uma disciplina que merece análise e reflexão. Que começa a deixar o empirismo para estar suportada em estudos que a justificam.
Mas será o Networking apenas um conjunto de técnicas? Será apenas para ser feito por pessoas desinibidas que não têm dificuldade em meter conversa com outra? Ou será algo mais? Um conjunto de regras, de aceleradores e até de princípios?
Foi para obtermos respostas a estas e a outras perguntas que convidámos Francisco X. Froes, para a nossa WYtalk de Setembro. As WYtalks são conversas abertas aos nossos amigos e convidados e que acontecem todos os meses no WYgroup com um convidado, e que abordam os mais variados temas, sempre no Anfiteatro da Casa da Praia.
Francisco X. Froes é licenciado em gestão pela Universidade Católica, MBA pela Nova, pós-graduado pelo Insead em Liderança e Gestão de Crises. É hoje o presidente do AMBA da Nova. A sua definição de Networking não pode ser mais direta, “é a capacidade de criar, manter e fazer crescer relações de valor acrescentado”, diz. Valor acrescentado para ambas as partes, pois não basta conhecer, temos de dar sempre algo para receber algo em troca. Mas esse algo tem de ser valorizado pela outra parte. “No limite, estamos a pedir tempo a quem queremos conhecer, ora o tempo é de todos o nosso activo mais valioso e ninguém gosta de o desperdiçar. Tenho de levar algo para essa relação, para esse encontro, caso contrário, ao não acrescentar nada, irei seguramente perder a ligação.”
Mas Networking, vai muito mais além. Acrescenta valor numa amizade, num conhecimento, numa relação familiar. Francisco divide o Networking em três partes: A sua Natureza, a sua Ciência e a sua Arte. As duas primeiras são comuns a todos nós. A terceira é pessoal e intransmissível. Como analogia, podemos ver o Networking com um edifício. Neste caso, a Natureza do mesmo são as suas fundações, onde o primeiro pilar é o da Necessidade de Cooperação. Nada neste mundo, estrela, cometa, asteroide que sejam, existe sem a cooperação das outras estrelas, cometas, asteroides, galáxias, buracos negros. Na nossa natureza está a cooperação.
Da teoria passámos à prática e o exercício seguinte deixou bem espelhado como a cooperação e o Networking podem ajudar a eliminar barreiras e obstáculos. Numa plateia de mais de 30 pessoas que não se conheciam, foi perguntado a uma delas quem gostaria de conhecer no Mundo. A pessoa responde sem hesitar: Barack Obama. E o Francisco faz a pergunta que se temia: Como chegar até ele sem utilizar redes sociais. Alguém, se lembra que será fácil se o conseguirmos fazer através do Eng. Guterres, ao que outra pessoa diz, que o Presidente Marcelo seria o passo anterior a esse contacto. Por último, outro participante informa que conhece alguém que trabalha directamente com o próprio Obama. Por outras palavras, em 3 contactos chegaríamos ao nosso objetivo supostamente inalcançável. É possível lá chegar, mas para o conseguirmos temos de definir bem o que pretendemos e o que trazemos para a mesa, pois sem relevância e contrapartida as relações não se desenvolvem e necessariamente não se efectivam.
Há, no entanto, muitos mitos em relação ao Networking. O primeiro e o mais forte diz-nos que o Networking é coisa para pessoas desinibidas e extrovertidas. Mas será mesmo assim? Fizemos a pergunta ao Francisco X. Froes, e a sua resposta não pode ser mais contundente: “Os Extrovertidos vão buscar a sua energia a outras pessoas, eventos e acontecimentos exteriores. Os Introvertidos, às suas análises, introspeções, pensamentos consigo próprios. Ora, para um extrovertido é muito fácil fazer um contacto, pelo que se aquele não deu ele salta rapidamente para o próximo. Para um Introvertido não. Então cada contacto é feito com cuidado e com atenção investe na relação e isso transforma-a em algo muito mais produtivo. No final há um equilíbrio, pois o que um ganha em número de contactos, o outro ganha na eficácia com que constrói relações.
Como corolário do Networking e das suas capacidades, Francisco falou-nos das suas três regras de ouro – aquelas que sem a sua aplicação ninguém obterá resultados – e a sua simplicidade é tão impactante quanto a sua importância: Ser generoso, disponível para escutar e para servir o outro. Todos nós ao praticarmos estar três simples regras com os nossos clientes, amigos e família seremos capazes de criar relações mais positivas, duradoras e com mais significado. Pois no final estamos a entregar uma importante parte de nós ao outro sem esperar nada em troca. Aquilo que acontecerá de seguida é o principio de reprocidade, a necessidade que o outro tem de dar em troca por ter recebido tanto sem nada ter pedido. E o Networking começa a partir daqui.
Caso queira saber mais acerca desta interessante disciplina, o Francisco X. Froes tem um conjunto de programas de aplicação mais ou menos longa que customiza em função das necessidades da audiência. E pode ser contactado através do mail [email protected].
No caso do WYgroup somos fortes defensores de relações fortes e duradoras. A todos os que assistiram a esta sessão do Francisco ficou a vontade de saber mais. Porque Networking é sobretudo sobre pessoas e para pessoas. Na sua base e no seu pensamento estão relações pessoais que nem toda a tecnologia pode substituir. A Tecnologia pode ajudar a aproximar, a ligar e por vezes a manter. Mas sem um verdadeiro contacto pessoal, o nível de força da relação é substancialmente mais baixo e menos efetivo. Pessoas querem estar com pessoas. E apesar dos últimos anos da nossa vida nos terem “obrigado” a vivermos mais afastados, a verdade é que somos seres cooperantes e sociais por natureza. Dito isto o Networking não é mais do que uma pessoa a ser humana.
Publicado originalmente na Líder Magazine.