“Sei que o Luxo é uma palavra maldita no léxico português. Fruto de 45 anos de uma visão monolítica e raquítica, ainda vivemos debaixo do ensinamento de que devemos ser pobrezinhos para ser felizes.” diz João Santos COO do WYgroup.
Portugal passou de um país esquecido no final da Europa, para um país que está na moda. Recebemos anualmente o dobro da nossa população em visitantes, e começamos a queixar-nos de que já estamos a receber visitantes a mais. Esquecemo-nos que o setor do Turismo, direta e indiretamente, representa hoje a mais importante fatia do nosso PIB e têm uma geração de emprego muito substancial. Dirão muitos que emprega com baixos valores. Já lá iremos.
Por outro lado, e graças a esse fluxo de visitantes, alguns dos locais do nosso país começaram a ser cobiçados e desejados. Essa procura gerou modificações e alterações nas nossas cidades e, goste-se ou não, se hoje temos cidades mais bonitos e arranjadas, isso deveu-se ao turismo e a nada mais.
Depois, começaram a surgir os investimentos – nacionais e internacionais. A procura por localizações até aqui remotas, deu origem a empreendimentos e a transformações profundas. Talvez o exemplo mais gritante seja a zona da Comporta e tudo o que ali nasceu e está a nascer. E começaram os protestos, pois a zona popular e deserta de há 20 anos, deu origem a uma outra exclusiva, repleta e de grande valor. Uns sentem-se excluídos, os outros querem ser exclusivos.
E aqui começa o dilema.
Se por um lado é importante que o turismo mantenha o seu fulgor e a sua dinâmica económica, não podemos sacrificar as nossas cidades e os nossos locais à sua enorme pressão. Mas por outro lado, quando fazemos algo exclusivo e de baixa intensidade, há quem se queixe por não poder usufruir desse espaço como o fez num passado recente.
Sei que o Luxo é uma palavra maldita no léxico português. Fruto de 45 anos de uma visão monolítica e raquítica, ainda vivemos debaixo do ensinamento de que todos devemos ser pobrezinhos para sermos felizes. As revistas e as colunas cor-de-rosa fizeram o resto. Mostrando os nossos “famosos” nas suas casas de luxo, carros de luxo e férias de luxo. Há no mundo quem procure o luxo de ostentação, outros preferem o luxo tranquilo; nós sentimos vergonha do luxo.
Mas o mais importante, para além da óbvia necessidade de desdramatizar a palavra, é olharmos para os segmentos de luxo e de alto valor acrescentado, não por aquilo que a opinião pública ou algumas forças políticas nos querem fazer ver, mas pelo verdadeiro valor económico e transformador que estes segmentos podem ter no nosso país.
Pela nossa geografia e modelo económico, estamos muito ligados às pequenas séries. Pelo nosso modelo empreendedor, somos avessos ao risco e preferimos fabricar para as marcas dos outros, em vez de para nós próprios. No entanto, sabemos fazer e fazemos bem, numa grande variedade de setores.
Os mercados de luxo podem ajudar nesta transformação económica, permitindo que as nossas pequenas escalas – no vinho, por exemplo – seja efetivamente valorizada, ajudando a posicionar o país como um produtor de alta qualidade e não de grandes volumes massificados. Talvez precisemos de menos vinha, mas de melhor qualidade. O mesmo para o azeite. Não precisamos de olivais intensivos. Precisamos de produção de altíssima qualidade que valorize o bom produto que temos condições para produzir.
E o mesmo se passa no turismo, no calçado, nos curtumes, na joalharia, e em muitos outros setores. Não é fazer mais, é fazer melhor e com mais valor. E manter o destino e o país como sinónimo de bem feito, de artesanal, de alta qualidade, de atenção e detalhe. Se é fácil? Não. Mas se queremos aumentar produtividade e valor que nos permita fazer crescer salários e ter um território mais sustentável, o caminho não pode ser o do muito, mas antes o do menos, mas muito bom.
Por fim importa esclarecer que não defendo a criação de um país onde apenas os ricos tenham acesso, mas sim a construção de uma economia mais forte e sustentável que beneficie todos. Ao focarmo-nos na criação de valor, especialmente em setores onde temos potencial para nos destacarmos pela qualidade e pela excelência, estaremos a gerar riqueza coletiva que pode ser redistribuída de forma a garantir que o acesso, qualquer que ele for, seja uma realidade partilhada e não o privilégio de uns poucos. Nesse momento diremos que o Luxo servirá para incluir, o que o tornará no Luxo Inteligente.
Artigo escrito pelo João Santos, COO do WYgroup, e originalmente publicado no ECO