Provavelmente já leu nas páginas anteriores desta edição da Líder que demostrar vulnerabilidade não é uma fraqueza. É, sim, uma soft skill essencial que nos desafia a aceitar os nossos limites.
Quando os líderes abraçam e partilham a sua própria vulnerabilidade, o ambiente de trabalho ganha autenticidade e as equipas saem fortalecidas. Todos passam a sentir-se parte de um todo coeso e esta transformação é palpável: cada vez mais, os colaboradores desejam pertencer e partilhar da mesma cultura. O que antes era um nice-to-have tornou-se um must-have – um renovar do lema “junta-te aos bons e serás como eles”.
Prova irrefutável de que a vulnerabilidade é uma qualidade que pode ser desenvolvida tão facilmente quanto esquecida? Os homens, ensinados durante décadas a não chorar, sentem-se, finalmente, confortáveis em fazê-lo. Já as mulheres, à força de oprimir as suas fragilidades para mudar perceções no mundo laboral desaprenderam a fazê-lo. Em suma, um infeliz desencontro.
Quem fala abertamente sobre este fenómeno é o empreendedor americano Kory Stevens, que partilhou recentemente uma montagem de duas fotografias suas radicalmente distintas. Na primeira foto, vemos um Kory radiante, depois de receber, em 2019, o prémio Empreendedor do Ano, criado pela revista Forbes, que premeia 30 under 30; na segunda foto, uma selfie de Kory lacrimejante, irreconhecível.
A montagem foi partilhada no final do ano passado, quatro anos depois de ter tirado ambas as fotos, numa publicação no seu perfil de LinkedIn. Explica que Kory que apenas nove dias separam os dois retratos: o segundo marca o momento em que se internou, de livre vontade, num hospital psiquiátrico, receando pela sua própria vida. É um bravo e personalíssimo exemplo que transporta agora para o seu dia a dia, através de palestras sobre saúde mental e vida profissional. Vulnerabilidade é transparência.
Mas vulnerabilidade também é cultura. Se buscarmos até à génese da palavra latina, obtemos a confirmação: colere significa cuidar, cultivar e crescer. Para mim, é isto gerir uma equipa: estar atenta, garantindo que todos crescem saudáveis, num ambiente equilibrado e suficientemente confortável para partilhar, de forma transparente, as suas necessidades.
Vulnerabilidade é, pois, empatia. Com o outro, mas também comigo. É perceber que nem sempre dar o meu melhor significa produzir a mesma quantidade de trabalho. E, tarefa difícil, significa aceitar de si mesmo o que aceita do outro. É, sobretudo, estar feliz e seguro, tanto no trabalho como fora dele, respeitando os limites impostos por corpo e mente.
Quando vista como missão, a vulnerabilidade é ainda um convite. Uma obrigação de atentarmos à felicidade do outro. Exige-nos que abandonemos diariamente a nossa zona de conforto e pede-nos que nos sintamos cómodos enquanto o fazemos. Exige que sejamos corajosos na nossa própria pele, dando espaço para o outro se apresentar como é, sem artifícios. Treino esta soft skill todos os dias e todos os dias sou lembrada que estou – que estamos – no bom caminho. Não há como errar.
Artigo escrito por Filipa Montalvão, Co-founder & Partner da White Way, e publicado originalmente na LIDER Magazine.